- Por Nielcem Fernandes.
Distante pouco mais de 15km do centro da capital Palmas, o Parque Aquícola Sucupira, abriga uma pequena, porém eficiente associação de aquicultores, a Associação Bom Peixe, que com cerca de 20 produtores cadastrados, produz mensalmente, uma média de 10 toneladas de peixe que abastece as feiras-livres da do município, cidades circunvizinhas, restaurantes e até frigoríficos especializados no manejo e exportação de pescado no Tocantins.
Produzindo no sistema de tanques rede, os aquicultores criam diversas espécies de peixes, como piau, caranha, tambaqui, tilápia, pirarucu, pintado entre outras.
As margens do Lago da Usina Hidrelétrica do Lajeado, ou como é conhecido, o Lago de Palmas, é o lugar onde o aquicultor Valdir de Assis Silva, de 40 anos, produz o sustento de sua família.

O ex-motorista de transporte coletivo, revelou que resolveu trocar a vida agitada da cidade, onde trabalhou por mais de oito anos como funcionário de uma grande empresa, pela tranquilidade da zona rural após um longo planejamento e garante: “a qualidade de vida e nossa renda melhorou bastante”, assegurou o Microempreendedor Individual (MEI).
Ele recebeu a reportagem do Notícia do Tocantins para contar como tudo começou.
“Desde 2015, quando minha esposa foi sorteada para ganhar uma área aqui na região que a gente já vinha planejando trabalhar com a criação de peixe. Desde então nós economizamos e começamos a investir em tanques e outros materiais para podermos iniciar nosso empreendimento”, lembrou.
A partir de 2020, Valdir deixou o emprego de motorista e ou a se dedicar exclusivamente à aquicultura. Questionado sobre as principais dificuldades enfrentadas pelo casal para tocar o próprio negócio, ele declarou: “no início, enfrentamos muitas dificuldades para vender nosso peixe na feira, pois o pessoal ainda não conhecia e ficava desconfiado devido a coloração mais escura do pescado que é produzido nesse sistema”, e explicou “nosso pescado é mais escuro. Como ele é criado nos tanques, ele fica submerso e se camufla para não receber a incidência dos raios solares e até o pessoal conhecer, levou um tempinho e ficamos com medo de investir e não conseguir vender o nosso peixe”.
Consolidação
Após enfrentar as dificuldades e insegurança do início do empreendimento, o casal de aquicultores se estabeleceu e atualmente tem ponto e clientela fixa em duas feiras livres da cidade.
Com 22 tanques de 27 metros cúbicos e o cultivo de cinco espécies, a produção semanal é em média de 200 kg de pescado, a maioria comercializado nas feiras livres das quadras 1304 sul, às quartas-feiras, e na 1206 sul, às quintas. O restante da produção, segundo o produtor, é vendida para restaurantes e outros feirantes que também comercializam o pescado.
Produção
O casal compra os alevinos de fazendas e criatórios do Tocantins e de fora do estado. Os peixes chegam com cerca de três centímetros e são criados inicialmente em berçários e após algumas semanas são transferidos para os tanques principais. O aquicultor ainda compra a ração específica para a criação em tanques rede de fábricas instaladas no Tocantins, o que fomenta a economia e alavanca a criação de novos postos de trabalho de forma indireta.
Além de criar os peixes, o próprio empreendedor é responsável pelo tratamento do pescado que é vendido de forma apropriada para o consumo final. Todo processo é feito de forma manual, seguindo as normas de segurança sanitária estabelecidas pelo município.
“Recebemos os alevinos em média com três centímetros e colocamos no berçário, que vai dentro dos tanques. Com algumas semanas eles atingem seis centímetros e já são transferidos para os tanques onde serão criados até o abate”, disse.
Entre as espécies criadas, a mais precoces, segundo o criador, é a tilápia, que demora em média de seis a sete meses para chegar ao ponto de abate.
“A espécie que chega mais rápido ao ponto de abate é a tilápia que atinge mais de 1kg com sete meses e está pronta para ser vendida tanto na forma de filé, quanto inteira. Também é a que mais compensa, pois chegamos a criar até 1.200 peixes em um só tanque”, argumentou.
Outra espécie que também é bem procurada pelo consumidor final é o Tambaqui. Apesar de demorar um pouco mais tempo para atingir o ponto de abate, com as técnicas e ração específica, a precocidade garante o sucesso de vendas e uma boa margem de lucro.
Sebrae
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Tocantins (SEBRAE-TO), é um dos parceiros e incentivadores do empreendimento dos aquicultores. Como MEI, Valdir informou que está contando com o apoio do SEBRAE para aprender técnicas de venda e marketing para aplicar em seu negócio.
“Atualmente estamos aprendendo novas maneiras de fazer a propaganda do nosso produto, de fato, vender o nosso peixe. Esse novo conhecimento está sendo aplicado principalmente no que diz respeito à venda ao consumidor final nas feiras”, ressaltou o empreendedor.
O consultor do projeto Agente Local de Inovação Rural (Ali Rural), Vinícius Lopes Soares, desenvolvido pelo Sebrae-TO, informou que a assessoria prestada aos empreendedores da região, tem como foco impactar de forma positiva e com políticas de inovação, o empreendedorismo na zona rural do município de Palmas.
“Temos ações específicas para atender os produtores da zona rural, como o senhor Valdir e sua esposa, a Dona Marinalva, pois eles produzem, processam e vendem o pescado nas feiras. Entre elas, algumas ferramentas para detectar possíveis falhas no processo. Auxiliamos no controle financeiro, no processo em si do pós-produção e sobretudo na área de marketing para divulgar o produto, formação de preços e fidelização dos clientes. Além disso, estamos amadurecendo a ideia da implantação da horticultura para agregar a produção do pescado e aumentar a renda familiar de forma significativa com o aproveitamento do espaço e dos recursos que eles têm à disposição”, destacou o consultor.

Embrapa
Outro parceiro importante para alavancar o negócio do aquicultor é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Tocantins (EMBRAPA-TO).
A pesquisadora da EMBRAPA-TO, Flávia Tavares de Matos, ressaltou a notoriedade da parceria entre o órgão federal e os produtores do Parque Aquícola Sucupira. Para a pesquisadora, essa espécie de simbiose é fundamental no desenvolvimento de novas pesquisas voltadas para o avanço da produção de pescado no Tocantins, como o melhoramento genético e a precocidade das espécies que são destinadas ao abate e consumo humano.
“Nós temos um acordo de cooperação com a Associação Bom Peixe que está localizada no Parque Aquícola Sucupira há oito anos. É uma parceria muito benéfica para ambas as partes pois eles são muito comprometidos. Posso afirmar que sem eles [os produtores], nós não teríamos nenhum dado. Nossa unidade de pesquisa em tanques rede está instalada na Associação. Somos muito parceiros. Nós da EMBRAPA entramos com a estrutura, ração e com diversas espécies de peixes e eles com a mão de obra. Eles criam, e no final do experimento ficam com 50% dos lucros das vendas e nos retornam os outros 50% para podermos financiar novos experimentos. Já realizamos diversos projetos como o protocolo da criação de tambaquis em tanque rede, o tilápia que engorda, o monotamba e diversos outros projetos bem-sucedidos”, afirmou a pesquisadora.
Precocidade
Pesquisa coordenada pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) conseguiu aumentar em mais de duas vezes o ganho de peso do tambaqui em tanque-rede. Com técnicas que envolvem suplementação hormonal e alimentar, os cientistas obtiveram 1,7 kg em dez meses nesse sistema de produção, o que representa uma taxa de ganho de peso 2,04 maior em relação ao resultado normalmente alcançado, que é de aproximadamente 1 kg em doze meses. Esses dados são de tanques com densidade de 40 quilos por metro cúbico (kg/ m³) e o acréscimo de peso foi calculado com base na média mensal.
É o caso do projeto Uso de populações monossexo de tambaquis, ou Monotamba, liderado pela pesquisadora Flávia Tavares, que gerou esse resultado.
A produção de tambaqui em tanques-rede é uma forma eficiente e ambientalmente responsável de cultivar essa espécie, por promover uma aquicultura sustentável e com ganhos crescentes de produtividade. Além disso, facilita o o a mercados locais em regiões ribeirinhas, permitindo uma produção mais próxima dos consumidores finais, o que pode reduzir custos de transporte e melhorar a qualidade do produto final.
